sábado, 19 de dezembro de 2009

Algumas considerações sobre Gêneros Textuais

NOÇÃO DE GÊNERO TEXTUAL, TIPO TEXTUAL E DOMÍNIO DISCURSIVO


A comunicação verbal só é possível por algum gênero textual. Bronckart (1999; 103) afirma que “a apropriação dos gêneros é um mecanismo fundamental de socialização, de inserção prática nas atividades comunicativas humanas” (p.154). Assim vamos entender o conceito de tipo e gênero textual alé de domínio discursivo, na visão de marcuschi.

1. Tipo textual: designa uma espécie de construção teórica definida pela natureza lingüística de sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas, estilo). O tipo caracteriza-se muito mais como seqüências lingüísticas (retóricas) do que como textos materializados; a rigor, são modos textuais. Em geral, os tipos textuais abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção. O conjunto de categorias para designar tipos textuais é limitado e sem tendência a aumentar. Quando predomina um modo num dado texto concreto, dizemos que esse é um texto argumentativo ou narrativo etc.

2. Gênero textual: são os textos que encontramos em nossa vida diária e que apresentam padrões sociocomunicativos característicos definidos por composições funcionais, objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integração de forças históricas, sociais, institucionais e técnicas. São entidades empíricas em situações comunicativas e se expressam em designações diversas, constituindo em princípio listagens abertas. São formas textuais escritas ou orais bastante estáveis, histórica e socialmente situadas. Exemplos: telefonema, sermão, carta pessoal, carta comercial, resenha, cardápio de restaurante, bate-papo no computador...

3. Domínio discursivo: não abrange um gênero em particular, mas dá origem a vários deles. São práticas discursivas nas quais podemos identificar um conjunto de gêneros textuais que às vezes lhe são próprios ou específicos como rotinas comunicativas institucionalizadas e instauradoras de relações de poder (discurso jurídico, discurso jornalístico, discurso religioso etc.).


• “Não se pode tratar o gênero de discurso independentemente de sua realidade social e de sua relação com as atividades humanas” (p. 155)‏

• Gêneros e tipos não são opostos, não formam uma dicotomia. São complementares e integrados, formas constitutivas do texto em funcionamento.

• Carta pessoal: possui uma variedade de seqüências tipológicas, em que predominam descrições e exposições.

• “Gêneros não são entidades formais, mas sim entidades comunicativas em que predominam os aspectos relativos a funções, propósitos, ações e conteúdos. A tipicidade de um gênero vem de suas características funcionais e organização retórica” (p. 159).
• Carolyn Miller (1984): “os gêneros são formas verbais de ação social estabilizadas e recorrentes em textos situados em comunidades de práticas em domínios discursivos específicos. Assim os gêneros de tornam propriedades inalienáveis dos textos empíricos e servem de guia para os interlocutores, dando inteligibilidade às ações retóricas. São entidades dinâmicas, históricas, sociais, situadas, comunicativas, orientadas para fins específicos, ligadas a determinadas comunidades discursivas, ligadas a domínios discursivos, recorrentes e estabilizadas em formatos mais os menos claros”(p. 159).

• Por serem sócio-históricos e variáveis, tornou-se muito difícil fazer uma classificação de gêneros, o que deixou de ser preocupação dos estudiosos. Hoje procura-se explicar como eles se constituem e circulam socialmente.

• Maingueneau (2204) propôs uma divisão dos gêneros em três grandes conjuntos partindo do seu regime de generecidade:

a) Gêneros autorais: mantêm um caráter de autoria pelos traços de estilo. Situam-se na literatura, no jornalismo, na filosofia...
b) Gêneros rotineiros: comuns no dia-a-dia. Realizam-se em entrevistas radiofônicas, consultas, médicas... Não mudam muito de situação para situação e suas marcas autorais de manifestam menos.
c) Gêneros conversacionais: gêneros de menor estabilidade e sem organização temática previsível como as conversações.
d)
O próprio autor mudou a classificação pela inadequação do termo “rotineiro”. Ele defende que se distinga:
• Regime de gêneros conversacionais
• Regime de gêneros instituídos (conteria gêneros autorais e rotineiros)‏
“Todos os textos realizam um gênero e todos os gêneros realizam seqüências tipológicas diversificadas (...) os gêneros são em geral tipologicamente heterogêneos”(p. 160). Exemplo: telefonema.

GÊNEROS TEXTUAIS NO ENSINO DE LÍNGUA

Luiz Antônio Marcuschi


Considerando a questão intercultural, segundo Marcuschi (2009) “A escolha de um gênero que pode ser usado para servir a uma certa função interativa em nossa cultura pode se tornar inadequada numa situação cultural diferente. Um sinólogo alemão, que trabalhava como intérprete em encontros de negócios entre comerciantes chineses e alemães, apontou a preferência dos comerciantes alemães por contar piadas em negociações comerciais. Para os chineses, é considerado inapropriado contar piadas durante encontros de negócios, e as piadas não são esperadas neste contexto.”

Da mesma forma, o uso de provérbios tanto na oralidade como na escrita chinesa é um sintoma de boa educação.

 Um aspecto importante a tratar é o problema da variedade cultural dentro de um mesmo país e como isso deveria ser encarado pelo próprio livro didático.

 Estes deveriam oferecer um ensino culturalmente sensível, tendo em vista a pluralidade cultural. Não se deveria privilegiar o urbanismo elitizado, mas frisar a variação lingüística, social, temática, de costumes, crenças valores etc.

 A vivência cultural humana está envolta em linguagem e todos os textos situam-se nessas vivências estabilizadas simbolicamente. Isto é um convite claro para o ensino situado em contextos reais da vida cotidiana.

A questão do suporte de gêneros textuais

Equivocam-se os manuais quando falam no dicionário como portador de gênero, pois ele próprio é um gênero. Enquanto que a embalagem é um suporte e não um gênero. A idéia central é que o suporte não é neutro e o gênero não fica indiferente a ele. O suporte é imprescindível para que o gênero circule na sociedade e deve ter alguma influência na natureza do gênero suportado.

Suporte - Um locus físico ou virtual com formato específico que serve de base ou ambiente de fixação do gênero materializado como texto.

É muito difícil contemplar o contínuo que surge na relação entre gênero, suporte e outros aspectos, pois não se trata de fenômenos discretos e não se pode dizer onde um acaba e outro começa.

Exemplo:
• Carta pessoal (GÊNERO) – Papel-carta (SUPORTE) – Tinta (MATERIAL DA ESCRITA) - Correios (SERVIÇO DE TRANSPORTE)

• Não é fácil estabelecer a mesma cadeia para todos os gêneros, mas isso serve para pensar as unidades componentes dessa cadeia.

• O suporte firma ou apresenta o texto para que se torne acessível de certo modo e, não deve ser confundido com o contexto nem com a situação, nem com o canal em si, nem com a natureza do serviço prestado. O suporte não é neutro e o gênero não fica indiferente a ele.

• O outdoor, durante muito tempo foi classificado como gênero porém, hoje é claramente identificado como suporte público para vários gêneros, com preferência para publicidades, anúncios, propagadas, comunicados, convites, declarações, editais.

Tipos de SUPORTE:


1. Convencionais - típicos ou característicos, produzidos para esta finalidade.



Livro Telefone
Livro didático Quadro de avisos
Jornal (diário) Outdoor
Revista (semanal/mensal) Encarte
Revista Científica (boletins e anais) Folder
Rádio Luminosos
Televisão Faixas

2. Incidentais - podem trazer textos, mas não são destinados a esse fim de modo sistemático nem na atividade comunicativa regular.

Embalagens Paradas de Ônibus
Muros Estações de Metrô
Roupas Calçadas
Corpo Humano Fachadas
Paredes Janelas de Ônibus
Pára-choques e pára-lamas de caminhão (Meios de Transporte em geral)

3. Serviços em função da atividade comunicativa

Não devem ser situados entre os suportes textuais, sejam os incidentais ou convencionais, mas sim como SERVIÇOS.
 Correios
 (Programa de) E-mail
 Mala-direta
 Internet
 Homepage e site

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